quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Dois

Pelo meu desgaste físico eu aguentaria passar mais horas nesse bar, mas pelo meu cansaço mental e por seu desinteresse cada vez mais visível, minha renúncia por aquilo tudo só se aproximava... Você já me espera na porta e eu ainda tento convencer o garçom de que aquilo tudo não passou de uma pequena discussão de relação. Chovia fino e o carro já se encontrava coberto por milhares de pingos. Em ocasiões distintas eu te protegeria da chuva, mas dessa vez eu só abro a porta... Você entra no carro e como em todas as outras vezes já abre o porta luvas em busca de qualquer disco só pra não ter que escutar o meu favorito. Por mim poderiamos sair sem ouvir nada, mas sua insistência em não ouvir The Police é maior do que qualquer coisa. O frio no carburador ocasiona um atraso e a sua ansiedade já começava a se tornar uma irritação para nós. Depois de três tentativas finalmente nos locomovemos e veja só a maior surpresa! O disco que estava tocando era o próprio que fora sempre evitado. Procurei por seus olhos e você me respondeu com um sorriso breve. Percebo tudo, desvio meu curso e sigo em direção ao viaduto, nosso velho viaduto de sempre. Encosto o carro e você sai em direção as luzes... Nós passávamos madrugadas inteiras ali. Observando as luzes dos prédios se ascendendo e apagando. O efeito que a chuva causava era incrível, todo aquele asfalto molhado, todas as luzes se refletindo na água. Eu realmente hesitei em te beijar antes, mas o local, a situação e as sirenes não nos dava outra escolha... É notável reparar que passamos horas sem dizer nenhuma palavra e que o som do silêncio já não nos constrange mais... Já era tarde e você realmente precisava descansar... Ainda sem dizer nada nos dirigimos até sua casa. Eram poucas casas dali. Você suspirou quando avistamos sua casa, sem entender eu prossegui. Até que finalmente, ocorre nosso primeiro diálogo:
- Você vem amanhã?
- Não tenho certeza - fitei-a com sinceridade.
Ela não olhou mais para trás. Eu esperei, mais nada aconteceu. Dessa vez fui eu quem troquei o disco. Arranquei o carro... Eu tinha que sair dali. Não adiantava mais fingir. Minha noite ainda não tinha acabado.

1 comentários:

Henrique Donancio disse...

Essas noites inacabadas, concerteza as melhores!

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