sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Quatro

Minha única opção seria de fato passar a noite naquele hospital... Na manhã seguinte a primeira coisa que faria seria te procurar, mas ainda é cedo para prever algo, minha cabeça lateja o bastante para eu poder me preocupar. Já nem acredito que isso seja causado pelo corte, pois meus pensamentos abarrotam toda a minha cabeça, como um labirinto de dilemas que se propaga me causando uma nostalgia seguida de um breve anseio. Passarei mais uma daquelas noites efusivas que nunca me deixam dormir. Novamente me vem a recordação de como tudo aquilo começou, eu meio que servia de consolo para que você conseguisse esquece-lo. A sensação de ser um tipo de estepe já nem me incomodava mais, porque eu sabia que você logo passaria a gostar de mim, só não imaginava que isso viria com essa amplitude toda. Naquela época você nem tinha o mesmo penteado e eu de fato não sabia absolutamente nada sobre você. Hoje a situação se reverteu, sei absolutamente tudo de você, mas já não consigo mais saber quem eu sou.
(...)
Já é tarde e a minha respiração começa a ficar menos ofegante, imagino que o sono logo me atacará e eu poderei descansar meu corpo, porque minha mente continuará incessante.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Três

A embriagues nunca me atrapalhou a dirigir. Mas dessa vez eu não conseguia, seria suicídio continuar. Eis que resolvo voltar. Já era tarde demais pra continuar e o sono insistia em me atordoar.
(...)
Já é de manhã e eu me deparo com você batendo na janela do carro tentando me acordar, você chora muito e eu não consigo entender porque... Quando finalmente voltei a mim consegui entender o porque de tudo. A colisão no portão da sua casa e esse corte profundo na minha testa conseguiu assustá-la bastante. Eu realmente não sei como fui parar ali, mas a vontade instantânea de rir era maior do que todos os até então problemas causados. Agora sim você tem motivos o bastante para não me entender. Eu caia em gargalhada enquanto sua mãe já acordava e abria a janela do quarto dela. Seus vizinhos começavam a fazer o mesmo e em poucos instantes já havia uma grande aglomeração de curiosos.
(...)
- ...amanhã cedo ele terá alta, o prejuízo maior foi com o carro.
- Mas e quanto ao corte?
- 7 pontos, mas tudo correu bem.
Aos dizer essas palavras o doutor realmente transbordava calma, mas você não conseguia disfarçar sua aflição. Foi a partir desse diálogo que percebi que é realmente necessário recapitular tudo. Estávamos no fundo do poço mas você ainda conseguia gostar de mim. Aonde diabos eu fui deixar a minha consideração por você?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Dois

Pelo meu desgaste físico eu aguentaria passar mais horas nesse bar, mas pelo meu cansaço mental e por seu desinteresse cada vez mais visível, minha renúncia por aquilo tudo só se aproximava... Você já me espera na porta e eu ainda tento convencer o garçom de que aquilo tudo não passou de uma pequena discussão de relação. Chovia fino e o carro já se encontrava coberto por milhares de pingos. Em ocasiões distintas eu te protegeria da chuva, mas dessa vez eu só abro a porta... Você entra no carro e como em todas as outras vezes já abre o porta luvas em busca de qualquer disco só pra não ter que escutar o meu favorito. Por mim poderiamos sair sem ouvir nada, mas sua insistência em não ouvir The Police é maior do que qualquer coisa. O frio no carburador ocasiona um atraso e a sua ansiedade já começava a se tornar uma irritação para nós. Depois de três tentativas finalmente nos locomovemos e veja só a maior surpresa! O disco que estava tocando era o próprio que fora sempre evitado. Procurei por seus olhos e você me respondeu com um sorriso breve. Percebo tudo, desvio meu curso e sigo em direção ao viaduto, nosso velho viaduto de sempre. Encosto o carro e você sai em direção as luzes... Nós passávamos madrugadas inteiras ali. Observando as luzes dos prédios se ascendendo e apagando. O efeito que a chuva causava era incrível, todo aquele asfalto molhado, todas as luzes se refletindo na água. Eu realmente hesitei em te beijar antes, mas o local, a situação e as sirenes não nos dava outra escolha... É notável reparar que passamos horas sem dizer nenhuma palavra e que o som do silêncio já não nos constrange mais... Já era tarde e você realmente precisava descansar... Ainda sem dizer nada nos dirigimos até sua casa. Eram poucas casas dali. Você suspirou quando avistamos sua casa, sem entender eu prossegui. Até que finalmente, ocorre nosso primeiro diálogo:
- Você vem amanhã?
- Não tenho certeza - fitei-a com sinceridade.
Ela não olhou mais para trás. Eu esperei, mais nada aconteceu. Dessa vez fui eu quem troquei o disco. Arranquei o carro... Eu tinha que sair dali. Não adiantava mais fingir. Minha noite ainda não tinha acabado.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um

Costumava acontecer alguns eventos no porão daquela lanchonete. Não me lembro o bastante, mas me recordo de sempre te ver pelos cantos. Da primeira vez você estava com aquele meu conhecido. Nos nem imaginávamos o que viria a acontecer depois de tudo. Já fazem quase dois anos agora e eu diria que isso é quase uma eternidade. Um tormento... Me lembro de você, porque raios você sempre se vestia de preto? Isso só veio pra me atrair em você... Agora estamos aqui nessa currutela, nesse boteco, com minhas garrafas vazias e seu cinzeiro cada vez mais cheio. Bem, ao menos você fica mais suportável quando fuma... Você não para de mencionar todas as suas aulas e todos os seus trabalhos inacabáveis, enquanto isso eu ainda reluto pra tentar encontrar aquele brilho que havia nos seus olhos. Acredito realmente que estamos acabados, mas da mesma maneira nos encontramos totalmente dependentes um do outro.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Prólogo

Aquele era seu último cigarro e ela ainda tinha a noite inteira pela frente... Queria poder desaparecer, mas assim não chego a lugar nenhum. Continuaríamos então a tentar construir todo nosso caminho de maneira inescrupulosa. Quem precisa de ética numa hora dessas? Alias, pro inferno com toda essa situação. Sairíamos então em busca de um bar sujo qualquer... Só para por poder aquecer um sentimento que só continua arrastado por falta de escolha. Eu realmente não gosto dos seus cigarros, mas felizmente eles realçam seus cabelos curtos. Conseguiria entender cada pensamento seu, sem que você dissesse uma palavra sequer.