quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Dezesseis

Tânia ainda respirava e obviamente iria sobreviver. Era apenas um corte no ombro e algumas escoriações em sua cabeça. Ferimentos dos quais se curaria apenas se limpando e se alimentando bem, mas como não sabia nada sobre onde vivia e nem o paradeiro de sua ainda desconhecida família, seu destino ficaria em minhas mãos. Ela havia perdido muito sangue e eu não sabia se eu deveria levá-la até o posto mais próximo ou voltar para a capital. A próxima cidade ficava a vinte minutos dali e seria mais viável do que voltar para a capital. Tudo para não voltar para aquele inferno. Reclinei o banco de carona para trás e prendi Tânia no cinto de segurança que por sorte prendia seu ombro direito e não o esquerdo onde estava localizado o corte, que agora já parecia bastante estancado. Ao acomodá-la no assento comecei a reparar que seu nariz e seus olhos mesmo fechados se assemelhavam aos de Luiza. Não era neura minha nem nada, de fato ela realmente se parecia com ela, com exceção de seus cabelos que eram mais claros, maiores e num tom de castanho quase loiro.
A cada dez quilômetros rodados eu olhava para Tânia e às vezes verificava se sua respiração se modificava. Comecei a insistir que Tânia era incrivelmente parecida com Luiza. Minha cólera de angústia me cegava a ponto de me deixar conduzir o veículo a uma incrível velocidade de uma forma totalmente equívoca e perigosa. Por sorte a rodovia não apresentava quase nenhum tráfego e o asfalto novo contribuía para que eus deslizasse sem grandes problemas. Por uns segundos me lembrei da minha batida no portão de Luiza e também me lembrei do acidente de Maurício que quase matou Luciana. Por mais estranha que Tânia me parecesse eu sentia que deveria confiar nela e seguir com ela até o hospital. Lembrei-me também do distinto relacionamento que mantinha com Luiza, da maneira incrédula que tratava sua família e de como eu atrasava sua vida. Foi preciso que eu quase me estrepasse com um caminhão em uma ultrapassem na faixa continua beirando os cento e ciquenta por hora para que num choque de realidade eu voltasse a mim e desviasse Luiza mais uma vez de meu pensamento. Em cinco minutos chegaríamos à cidade e Tânia poderia ser finalmente hospitalizada.
Ao avistar a entrada da cidade escutei um sussurro vindo de Tânia, Percebi que ela então despertava e que não conseguia entender como havia chegado ali e tampouco quem eu era.
- Quem diabos é você e para onde está me levando? Se você for amigo do Joel eu já vou te avisando para que me solte e que eu não preciso mais daquele emprego doentio naquele celeiro de caminhoneiros sádicos! – a fúria dela transcendia seus olhos, era assustador.
- Olha não sei se você se lembra de mim, mas fui atendido por você uns dias atrás e ao voltar para minha cidade te encontrei desacordada na rodovia. Não sei quem é Joel e também não sou nenhum caminhoneiro sádico, só estou te levando para o hospital porque achei necessário. Não precisa se preocupar Tânia, tudo vai ficar bem...
- Como sabe meu nome? Não me leve para o hospital, tudo menos isso, me leve para qualquer outro lugar, não posso ser medicada...
Seus olhos brilhavam e agora me passavam uma sensação de piedade que me dava pena. Senti que havia entrado numa grande fria, mas sem pensar mais, confirmei com a cabeça e disse a ela que iríamos para minha casa. Fiz o contorno e voltei para o caminho de casa.