terça-feira, 11 de maio de 2010

Dez

E pela primeira vez na redação algo novo aconteceu para intrigar a todos. Minha promoção finalmente aconteceu, mas para surpresa de todos eu fui promovido e também substitui o editor Maurício Borges. Isso seria um baque porque ele era querido por todos do prédio e uma situação assim me deixaria bastante constragido e outra que algumas pessoas passariam a me odiar. Sem entender bem a situação me dirigi até o sala do chefe. Havia um longo corredor até o caminho da sala dele, alguns quadros de Rafael Sanzio e aquela velha maquina de café ficavam logo na porta do seu escritório. Algo muito errado estava acontecendo, a porta estava entreaberta e havia uns sussurros saindo de lá.
- Quem está ai? - disse ele aflito.
- Sou eu chefe, está tudo ok? - disse já entrando pela porta, ele estava escorado na parede perto de uma moldura com a foto de sua filha.
- Luciana está em coma e não sei como o Maurício conseguiu sair ileso do acidente! - disse ele em prantos. Sua camiseta estava toda molhada e seus ralos cabelos desarrumados. Nunca tinha o visto em tanto sofrimento. Logo ele que sempre foi bem humorado e sempre tratou Maurício como um filho.
- Ele já vinha dando em cima dela há semanas. Anteontem eles voltaram de uma festa e ele estava bebado. Pra variar ele bateu o carro! Não sei mais o que acontece com vocês jovens!
Fiquei em estado de choque imaginando tudo. Sai da sala e um estranho peso bateu na minha consciência. E se a Luiza estivesse comigo naquele dia? Seria diferente? O acidente poderia ter sido pior?
(...)
Não consegui ir caminhar na manhã seguinte. Minha cabeça estava explodindo. Rumores diziam que Maurício sairia da cidade por medo de responder a um processo. E que a situação de Luciana estava muito grave. Estranho como essa história toda se assemelha a nossa... Resolvi passar no Café do Paulo para espairecer. O lugar era bastante aconchegante, principalmente em manhãs frias como essas. Me sentei perto do vitral como já era de costume. Paulo trouxe meu espresso sem eu dizer nada. Ele já está habituado com minhas visitas inusitadas e já sabia que algo ocorrera comigo.
- É a Luiza?
- Não dessa vez Paulo, não mesmo.
- Como está o café?
- Excelente como sempre!
- Fico feliz em ouvir em ouvir isso garoto. Agora mantenha sua cabeça no lugar, independente do que for, não haja como das outras vezes.
Eu olhei para ele confirmando com a cabeça. Ele era uma pessoa muito amável, mas sabia ser rígido na medida certa da necessidade... Eis que de repente uma pessoa inusitada entra no Café do Paulo. Era a moça do parque e ela parecia realmente muito feliz. Ela se dirigiu ao balcão e pediu algo o Paulo. Me concentrava em fazer origamis com o guardanapo da mesa, até que ela se aproximou e perguntou se poderia se juntar a mim. Eu concordei e de maneria bastante peculiar começamos um pequeno assunto:
- Por que Chá de Camomila? O café daqui é realmente muito bom pra ser trocado por um simples cházinho...
- Já tomou desse chá? - disse ela confiante.
- Bem... não.
- Experimente - disse ela empurrando o pires para perto de mim.
E um gole foi o bastante para que eu percebesse que ela realmente estava certa.
- Muito bom hein? Ouvi dizer que isso desestressa...
- Me poupe... Como você mesmo disse, não vai ser um "cházinho" que irá mudar tudo. Você é o único responsável pelos seus humores e ações diarios. - Era impressionante a firmeza que ela passava ao dizer essas palavras. - Sempre quis saber fazer esses origamis...
- Ei, não sei seu nome.
- Camila... e a propósito estou atrasada!
Nem consegui acompanhar a velocidade em que ela pagou o chá e saiu do estalecimento. Mas algo realmente fez com que eu me esquecesse da situação toda que estava acontecendo e me concentrasse apenas na figura de Camila tomando seu chá. Sua voz era linda e ela conseguira despertar uma enorme curiosidade em mim.
- Antes que me pergunte já te aviso... Ela vem aqui todas as terças e sextas. E vai por mim ela é muito especial, não queira tratá-la da mesma maneira que tratou a Luiza...
O Paulo realmente me assusta muito as vezes. Tenho a sensação de que ele consegue ler pensamentos. Mas era hora de ir para a firma e encarar toda a redação. Seria um dia longo. Peguei mais um café expresso e paguei a conta. Eram apenas três quadras para chegar até lá.