quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Treze

Sete anos de minha vida destruídos por três e-mails. Todo um conceito gerado em torno de minha mãe foi destruído e toda a minha suspeita sobre meu pai havia sido confirmada. Não bastasse meu pai ter se ausentado em minha formatura! Minha mãe sequer sabia que ela um dia aconteceu. Ela ainda acha que eu sou aquele adolescentezinho desalmado que só queria saber de beber e de matar aulas. Não que a situação tenha mudado tanto, mas eu já tenho meu emprego, meu próprio apartamento e poxa, minha própria vida. Não dependo mais do dinheiro desviado da receita que aquela fazenda maldita gerava. Fazenda da qual meu pai tenta tomar posse nos mesmos sete anos por essa justiça lenta e incompetente desse país. Só não consigo entender porque minha mãe preferiu deixar ele morando por lá enquanto ela mesma se exilou na Europa. Já estou dirigindo há três horas e a noite já começava a cair. Já eram sete horas da noite mas o nosso estranho horário de verão só permitia que o anoitecer caísse agora. Meu medo de que algum problema mecânico pudesse acontecer com o carro já fora dispensado. Eu sempre falava para a Luiza. Tenha um mecânico de confiância. Aqui estou eu, são e salvo e só pretendo parar assim que avistar a cidade.
[...]
Uma pausa naquele restaurante seria crucial. Faltavam apenas uns 120km para que eu chegasse na capital e eu só estava me sustentando pelo marmitex que eu almocei ainda na firma. Por mais que eu odiasse a idéia de ter que digerir aquela comida ruim e cara me dirigi até a instalação. O posto de gasolina do Shelton não passava de uma currutela. O combustível provavelmente deve ser adulterado e como meu tanque ainda está cheio resolvi nem arriscar um novo abastecimento. Na garagem ao lado do posto de conveniência havia uns cinco caminhões de aspectos deploráveis. Dá pra entender que o excesso de carga daqueles caminhões com certeza deixavam as já descuidas rodovias com um aspecto ainda pior. Na porta do estabelecimento se encontrava uma jovem moça que ficava no caixa. Seu aspecto era quase febril. Parecia que nada de interessante ocorria na vida dela e daquele pessoal que por ali habitava. No interior se notava uma meia duzia de mesas com pelo menos metade já ocupadas. Havia umas sete pessoas espalhadas pelo lugar, todas extremamente silenciosas e visivelmente aborrecidas. O cheiro gorduroso da cozinha exalava pelo ar. Preferi me dirigir ao balcão e por ali mesmo fiquei:
- Já sabe o que vai querer?
- Gostaria de batatas fritas e um pouco de arroz com bife. Vocês tem café expresso?
- Temos sim, vai tomando enquanto eu faço seu pedido ali na cozinha... - dizia a moça desviando o olhar.
- ...algum problema se eu souber seu nome?
- Não. É Tânia. Olha vou buscar seu espresso.
A moça me parecia muito assustada e saiu apressada para os fundos. Costumo gostar de saber o nome das pessoas pois geralmente me sinto mais confortável ao conversar com elas. Nesse caso eu vi que não funcionaria e achei melhor nem continuar o papo. A televisão do balcão já exibia a novela das oito e pelo que tudo indicava ninguém nunca assistia aquilo. Tânia me trouxe o café e voltou sem exitar para o caixa. Depois de uns minutos chegava a minha comida e eu insatisfeito me alimentei com aquela comida mal preparada de beira de rodovia. Na saída pedi outro espresso e tive pressa ao pagar. Aquele lugar já estava me dando náuseas. Não conseguia entender porque estava tudo tão calado naquele recinto. Tratei de ir para o carro e me despontar de volta para meu percusso. Faltava pouco mais de uma hora. O trânsito noturno era bem trânquilo, alias, durante todo o tempo não presenciei muita dificuldade no trajeto. Mesmo depois de tanto tempo sem dirigir em alta velocidade ainda conseguia manter tudo sob controle. Coloquei um CD do Nick Cave pra tocar e nem notei que a viagem se encerraria tao rápido. Logo eu já avistava as luzes dos edifícios da metrópole. Era tudo tão imenso e diversificado. Eu sentia até uma vazio por morar em uma cidade tão pequena e pacata. Eram quartenta minutos até o centro da cidade. Minha mãe sempre se hospedava no Hotel Mia Penenberg. Um luxuoso quatro estrelas que tinha uma vista panorâmica sensacional sobre toda a capital. Não seria diferente dessa vez, eu deduzia. O trânsito dali era extremamente mais efusivo e diferente. Não havia sequer local para estacionar nas proximidades do hotel. Tive que me deslocar para um estacionamento a três quadras dali. A cidade estava incrívelmente movimentada naquela fresca noite de sabado. Ao avistar o hotel me recordei de momentos da minha infância onde eu me divertia escorregando pela escadaria do hotel. Minha mãe sempre me repreendia, mas meu pai sempre me apoiava e dava risadas. Logo percebo que meu pai sempre me ganhou com as risadas e seu suposto jeito despreocupado de levar a vida, enquanto a seriedade de minha mãe era deixada de lado. Amargo arrependimento. Na entrada do hotel não se notava muita novidade desde aquela época. Os mesmos estofados de couro figuravam ali na recepção. Acompanhados de vasos chilenos e de pinturas surrealistas nas paredes. Lembro de tudo como se fosse ontem.
- Em que posso serví-lo senhor? Você já possui reserva em algum de nossos quartos? - disse me o jovem recepcionista com uma voz meio rouca e desgastada.
- Estou a procura de Cíntia Velasco.
- Deixe me verificar... Ela está hospedada aqui a apenas quatro dias. Está no quarto 807. Sobre quem devo informá-la sobre a visita?
- Sou filho dela.
Não demorou para que ela atendesse ao seu chamado, o recepcionista confirmou com a cabeça e se despediu.
- Pode subir, o elevador será liberado.

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