segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Doze

Minha vontade de reencontrar minha mãe estava deixando qualquer detalhe relevante para mim em segundo plano. Não saberia quando é que eu poderia ir para a capital, afinal, desde que eu assumi a redação não tive mais tempo pra nada. Mesmo com algumas horas extras acumuladas não seria sensato de minha parte me ausentar da firma para reencontrá-la e pra piorar meu chefe já anda meio abalado devido ao coma de Luciana. Realmente só me restava esperar um pouco mais, além disso eu realmente não estou adaptado com essa nova rotina, não posso mais adiar minha reorganização. Pra piorar tenho em minha consciência que esse encontro será incrívelmente forçado.
Meu pai e eu agiamos como colegas de cela. Mal nos falavamos e quando isso acontecia ele só queria me falar coisas sobre futebol e sobre a fazenda. Eu tenho aversão por qualquer tipo de fazendas, sítios e afins. Sei que isso é estranho pois passei grande parte da minha infância na Fazenda Velasco. Meu pai era apaixonado por aquele lugar e ele não podia estar errado agindo dessa maneira. O local é estremamente aconchegante, tem uma criação de gado estupenda, sem contar seus vastos campos. Para muitos seria o melhor refúgio da realidade. Só mesmo esse processo jurídico para poder tirar meu velho de lá. A única coisa que me agrada nisso tudo é que meu apartamento não tem mais aquele aspecto desertico deixado após a partida de Luiza. Pois por mais que não nos falassemos tanto aquela sensação de vazio logo era cessada com sua presença por ali.
[...]
Naquele manhã de sabado não havia muita coisa para se fazer na redação. Já havia editado dois artigos para a edição de domingo e parecia que nada mais de extraordinário aconteceria por ali. O pessoal estava me chamando para um churrasco na casa da Priscila mas eu neguei furtivamente e decidi passar o resto da tarde por ali organizando a sala de Maurício que agora seria meu novo escritório. As minhas caixas já estavam ali há duas semanas e eu nem havia pensado em como organizaria tudo. Depois de algumas horas me restavam apenas duas caixas das sete que eu estava organizando. Meus livros de gramática e meus arquivos mortos com edições anteriores do jornal já estavam todo em suas devidas estantes. Meu velho HP Compaq já estava acomodado em minha mesa que por sinal agora é bem mais espaçosa. Ainda não me adaptei bem com esse lance de notebook, mas não pretendo trocar minhas anotações manuais por isso tão cedo. Me lembro que eu usava ele apenas como tocador de cds e que de vez em quando entrava no mIRC. Na última caixeta só restaram um calendário, uma caixa de clips e a fonte do notebook. Pela primeira vez tive vontade de ligar o PC. Havia seis meses que a redação havia instalado a rede wireless e e eu ainda não tinha testado esse novo recurso. Alias só me lembro de usar isso uma vez na vida em um hotel de Goiânia. Ao ligar, me deparo com uma foto minha e da Luiza na área de trabalho. Foi nesse instante que um sentimento que eu já achava que não existia mais retornou. Senti minhas pernas bambas por uns instantes. Algo que eu só sentia quando eu me reencontrava com ela após nossas primeiras brigas. Dessa vez porém era diferente: não era tão intenso como antes e as possibilidades de uma reconciliação já nem existiam mais. Pra me livrar daquela imagem rapidamente resolvi abrir o navegador e o sistema já me informava a detecção da rede sem fio. Resolvi checar meus e-mails, algo que eu realmente não fazia a muito tempo. Era incrível a velocidade com que o site da BOL carregava com aquela nova conexão da redação. Para minha surpresa haviam oitenta e três e-mails não lidos. A maioria era spam e propragandas de cosméticos, mas os três últimos realmente me instigaram muito. Nem imagino de que maneira minha mãe conseguiu meu endereço de e-mail, mas o título daqueles e-mails realmente me deixaram com náuseas: "Preciso falar com você, filho"; "Urgente, estou indo para o Brasil" e "Seu pai quer um novo processo, kd vc?". Não me passava pela minha cabeça que minha mãe ainda se importava comigo! Em cada mensagem havia mais e mais perguntas sobre meu paradeiro. Me parece que o filho da mae do meu pai omitiu toda a minha vida para ela! E isso vem ocorrendo desde que eu ingressei na faculdade. Se eu soubesse antes o quão cretino meu pai era eu poderia ter evitado toda essa história. Depois de ler os e-mails minha vontade de reencontrá-la estava cada vez maior e eu realmente precisaria me ausentar da redação. Bem, não exitei. Fiz um bilhete informando minha partida e deixei sobre a mesa do chefe. Seriam oito horas de viagem se eu partisse agora. Abasteci o tanque no posto mais próximo da saída da cidade para que eu não perdesse muito tempo. Minha previsão de chegada era para às onze horas da noite. Seria a primeira vez que eu pegaria a estrada depois de quase sete anos.

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